A minha vida profissional começou numa mesa com uma régua T que me apoiava os riscos nos projetos. Em meses, passei para uma empresa de engenharia de alta tensão com o privilégio de me sentar num estirador Molin equipado com máquina de desenhar. Traçava subestações elétricas de dia e à noite o Molin ajudava-me nos trabalhos para o curso de design gráfico. Foi assim com engenheiros de dia e designers de noite que fui crescendo como profissional. Os engenheiros pagaram os ordenados que gastava em gasolina, nos jantares de amigos e, ironia do destino, no curso de design gráfico que me permitiu ser feliz noutra carreira.
Estes caminhos, apesar de diferentes, tiveram em comum as lapiseiras Rotring, a fabulosa máquina de desenhar, o papel e a capacidade de me ensinar do que eram capazes as estruturas de betão e os tipos de letra. Em comum tiveram também a revolução informática e o fim dos mecanismos hidráulicos e ângulos infinitos que o estirador oferecia. Com os anos, estes equipamentos foram remetidos para a extinção quase total. Passaram a ser lixo ou trambolhos em armazéns de arquivo morto. Só algumas salas de desenho de elite como oficinas de relojoaria ou departamentos de design de topo os mantiveram – locais onde o tempo de estudo e desenvolvimento são mais importantes que o lucro imediato.
Computadores e saudades dos estiradores foram coisa que não faltou. Até ao dia em que um amigo, que sabia bem o que sentia por eles, ligou a perguntar se lhe oferecia um café. Nesse dia, de surpresa, o Molin das fotografias acima entrou pela porta grande cá em casa e na minha vida.
My drafting machine - Rulers and pencils vs. computers vs. a career.